TESTAMENTO DE UM CÃO.
Minhas posses materiais são poucas e deixo tudo para você.
Deixo para você uma coleira mastigada numa das extremidades em que faltam dois botões, uma desajeitada cama de cachorro e uma vasilha de água que está rachada na borda.
Deixo para você a metade de uma bola de borracha, uma boneca rasgada que você vai encontrar debaixo da geladeira, um ratinho de borracha sem apito que está debaixo do fogão da cozinha e uma porção de ossos enterrados no canteiro de rosas e sob o assoalho da minha casinha.
Além disso, deixo para você as lembranças que, aliás, são muitas.
Deixo para você a memória de dois enormes e meigos olhos marrons, de uma caudinha curta e espetada, de um nariz bem molhado e de algumas choradeiras atrás da porta.
Deixo para você a memória de dois enormes e meigos olhos marrons, de uma caudinha curta e espetada, de um nariz bem molhado e de algumas choradeiras atrás da porta.
Deixo para você uma mancha no tapete da sala de estar, bem do lado da janela, de quando, nas tardes de inverno, eu me apropriava do lugar e me enrolava feito uma bolinha para pegar um pouco de sol.
Deixo para você um tapete meio esfarrapado em frente da tua cadeira preferida que nunca foi consertado com o tipo de linha certo. É verdade, eu o mastiguei todinho quando ainda tinha cinco meses de idade, lembra?
Deixo para você um esconderijo que fiz no jardim embaixo dos arbustos perto da varanda da frente, onde eu encontrava abrigo nos dias de verão. Ele deve estar cheio de folhas agora e por isso talvez você tenha dificuldade em encontrá-lo. Sinto muito!
Deixo só para você, o barulho que eu fazia ao sair correndo sobre as folhas de outono quando passeávamos pelo bosque.
Deixo também só para você, a lembrança de momentos matinais, quando caminhávamos juntos à margem do riacho e você me dava biscoitos de baunilha.
Deixo também só para você, a lembrança de momentos matinais, quando caminhávamos juntos à margem do riacho e você me dava biscoitos de baunilha.
Recordo-me das tuas risadas, quando não consegui alcançar um coelho impertinente.
Deixo-lhe como herança minha devoção, minha simpatia, meu apoio em tempos que as coisas não iam bem, meus latidos nos momentos que você levantava a voz aborrecido e a minha frustração por você ter ralhado comigo.
Eu nunca fui à igreja e nunca escutei um sermão. No entanto, mesmo sem haver falado sequer uma palavra em toda a minha vida, deixo para você o exemplo de paciência, amor e compreensão.
Autoria Desconhecida
Até breve amores!!!